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sábado, 30 de agosto de 2008

Velha discussão, nova realidade

Consumidor Cristão
A venda de produtos evangélicos em grandes lojas seculares prejudica o comerciante cristão? A resposta não é tão simples quanto um “sim” ou um “não”. A discussão é antiga e acalorada, mas o fato é que cada vez mais editoras e gravadoras evangélicas conseguem espaço no mercado secular. Livros, CDs, DVDs, entre outros produtos, são facilmente encontrados nas prateleiras das grandes redes de supermercados, livrarias e magazines. Essa é uma via de mão dupla: os empresários estão de olho no grande filão que é o consumidor evangélico, que no Brasil representa 24% da população, com projeção para 46,5 milhões de fiéis para dezembro de 2008, segundo dados do Ministério de Apoio com Informação (MAI), ligado à rede SEPAL (Servindo a Pastores e Líderes). No entanto, muitos livreiros cristãos estão sentindo no bolso esse avanço das gravadoras e editoras evangélicas rumo ao mercado secular. O comerciante Wilson Pereira Júnior acredita que a concorrência é desleal, e que é necessária uma ação conjunta dos livreiros evangélicos para mudar essa situação. Proprietário da livraria 100% Cristão, em São Paulo, ele afirma que o argumento de que os produtos evangélicos disponibilizados nos grandes magazines evangelizam não é verdadeiro. “Acho que não ajuda a ganhar novas vidas para o Senhor. Pode até acontecer um ou outro caso, mas são exceções, pois não existe nenhum trabalho que promova a evangelização, como promotores de vendas evangélicos exercendo essa função”, opina. Para Wilson, é preciso uma reciclagem do livreiro cristão para contornar a situação. “Não adianta só reclamar. Temos que nos profissionalizar a cada dia e entender como funciona o processo de compra e venda de nossos produtos para vencer a concorrência.”O livreiro Adauto Henriques, proprietário da Magnus Dei Livraria e Papelaria Cristã, no Rio de Janeiro, acredita que as reclamações de seus colegas não procedem. Segundo Henriques, a oferta de produtos evangélicos em lojas seculares não prejudica o comer-ciante cristão; na verdade, estimula o mercado. “Acredito que é uma forma de divulgar o evangelho e formar novos públicos, abrindo um grande canal de vendas para os produtos evangélicos. O livreiro que reclama da concorrência está ultrapassado e precisa se reciclar para trabalhar direito”, ressalta. Para ele, é preciso alcançar o consumidor cristão. “Somente 3% dos evangélicos freqüentam as livrarias especializadas. Os produtos evangélicos precisam alcançar os evangélicos”, enfatiza.Olhar missionárioUmas das pioneiras na venda via mercado secular, a Sociedade Bíblica do Brasil disponibiliza seus produtos em livrarias seculares e supermercados há mais de quinze anos. De acordo com o secretário de Comunicação e Ação Social da entidade, Erní Walter Seibert, um dos objetivos da SBB é levar a Bíblia a todos. “Os cristãos encontram a Bíblia nas igrejas e em livrarias do meio. Os não cristãos, que também precisam da Bíblia, não estão nem nas igrejas nem em livrarias cristãs. Para alcançá-los, é necessário disponibilizá-la em lugares aonde eles normalmente vão. Por isso, optamos por esses pontos de venda”, explica o secretário.Seibert alerta, porém, que a venda de produtos evangélicos em mercados seculares nem sempre é fácil. “Já houve casos de bíblias que foram classificadas como livros de auto-ajuda. Por outro lado, há pessoas que só entram em contato com a mensagem cristã se ela estiver exposta em locais não usuais. É preciso ter um olhar missionário nessa hora.”A gravadora Line Records também resolveu desbravar novos canais de distribuição. Há cinco anos, mantém convênio com grandes redes de mercado e lojas de conveniência que também demonstraram interesse na venda de produtos de orientação cristã. “Houve uma procura das grandes redes, pois começaram a notar o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil e a procura de seus clientes por produtos evangélicos”, diz Sergio Andrade, gerente comercial da empresa.Andrade lembra que as grandes redes oferecem facilidades no pagamento. “Eles aceitam vários cartões de crédito e, o mais importante, parcelam as compras”, argumenta. Ele acredita que os magazines não roubam clientes dos livreiros evangélicos. “Existe público tanto para as lojas cristãs quanto para as grandes redes, pois atualmente a nossa maior venda ainda continua sendo para as evangélicas.” Para o gerente comercial, o lojista cristão tem capacidade de concorrer com as grandes redes e negociar bons preços. “O mercado evangélico hoje tem grandes distribuidores bem estruturados e que atendem todo o Brasil e até o exterior”, garante.Sérgio Malafaia, diretor comercial da Editora Central Gospel, também acredita que não há razão para temer a concorrência das lojas seculares. “De jeito nenhum os livreiros são prejudicados, pois há uma clientela fiel às lojas evangélicas. De certa forma, a colocação dos nossos produtos em magazines potencializa as vendas, despertando o interesse de um novo segmento que atende a um público novo”, opina. De três anos para cá, a editora disponibiliza seus produtos em lojas, mercados e grandes magazines não evangélicos.Segundo Malafaia, há uma grande procura pelos produtos da Central Gospel fora do meio cristão por conta do programa de televisão apresentado pelo pastor Silas Malafaia. “Entendemos que a mensagem da Palavra de Deus, seja ela em formato de livro, CD ou DVD, deve ultrapassar os limites do meio evangélico e alcançar todo o grande público. Sem dúvida, essa é uma maneira de atingirmos os não evangélicos que certamente não visitam nossas lojas.” ContrapartidaUm dos supermercados que dispo-nibilizam os produtos da Central Gospel e de outras empresas evangélicas é o Prezunic, no Rio de Janeiro. A rede, que conta com 28 lojas no Grande Rio, recebeu uma proposta do presidente da editora para vender produtos evangélicos. “Silas Malafaia nos propôs vender os produtos dele e, em contrapartida, anunciaria no programa de TV que esses produtos estavam à venda em nossas lojas. Essa seria uma boa publicidade, então aceitamos. Já faz dois anos e não nos arrependemos”, declara o diretor geral da rede Prezunic, Genival de Souza Beserra.Ele diz que o negócio está gerando bons frutos. “Há uma procura considerável. O negócio é atrativo e lucrativo à medida que o cliente, ao ir às nossas lojas em busca desses produtos, acaba aproveitando e comprando outros itens”, afirma Beserra. O Prezunic também vende produtos e ingressos para eventos cristãos. Independentemente do calor e do tempo que levará essa discussão, parece que a caminhada em direção ao mercado secular é irreversível. Cabe agora ao livreiro evangélico se adaptar aos novos tempos e encontrar alternativas de competitividade.
Fonte: www.zoenet.com.br

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