Intolerância e perseguição religiosa contra os cristãos ainda acontecem no Irã, no Iraque e no Egito.
No Irã o parlamento exige pena capital para os “apóstatas”. No Egito uma mulher egípcia cristã é sentenciada a três anos de prisão por abandonar sua identidade muçulmana. No Iraque, a escassa população cristã terá o natal mais sombrio de todos os tempos, ameaçada pela série de assassinatos ocorridos no país...
Por todo o mundo pode-se encontrar exemplos de intolerância e de restrição da liberdade religiosa dos cristãos. Aqui serão mostrados três casos ocorridos em três países diferentes que ilustram essa perseguição infundada.
Natal amedrontador em Mosul - Para a população cristã cada vez mais escassa do Iraque, este será um natal sombrio. Cerca de doze cristãos foram assassinados apenas em Setembro e Outubro últimos, figurando como as últimas de um total de mais de 200 vítimas - número aproximado de pessoas mortas, desde 2003, por professarem a fé cristã.
Os últimos ataques foram amplamente considerados como uma forma de expulsar a pequena comunidade cristã da cidade de Mosul, ao norte do Iraque, empreendendo assim uma limpeza religiosa daquela que foi, outrora, uma das regiões mais diversificadas do país.
Permanece incerto se os carros-bomba, que explodiram após um período de paz relativa na região, tinham como alvos os habitantes cristãos ou os soldados que permaneciam nos arredores. Algumas testemunhas afirmaram que os ataques foram calculados de modo que impedisse os cristãos de votarem em bloco nas próximas eleições. Uma mulher cristã contou a um repórter que os autores do crime vestiam uniformes azuis da polícia iraquiana. Em meio à histeria crescente, um general iraquiano alertou contra “o sensacionalismo da mídia que estimulava o medo e o terror entre estas famílias”. Até mesmo os analistas em segurança do exterior têm dificuldades em separar a verdade dos rumores.
O efeito foi claro, no entanto, quando milhares de famílias empacotaram suas coisas, colocaram em seus carros e fugiram. Alguns se dirigiram à região auto-governada dos Curdos, que há tempos é conhecida por sua tolerância em relação aos cristãos. Outros fugiram para vilas remotas. A fuga intensificou aquilo que Pary Karadaghi, um oficial do Kurdish Human Rights Watch (Observatório Curdo dos Direitos Humanos) baseado nos Estados Unidos, chamou de “uma crise humanitária épica dos cristãos iraquianos”. Nos últimos cinco anos desde a invasão norte-americana do Iraque, centenas de milhares de cristãos iraquianos abandonaram suas casas e se mudaram para longe, devido a ameaças de violência religiosa. Muitos não têm acesso a comida, água e abrigo conforme adentra o inverno.
Joost Hiltermann, um analista de segurança da International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional) baseada em Nova Iorque, disse que as tropas norte-americanas estão “preocupadas com Bagdá”, e, portanto não muito inclinadas a dedicar muito esforço para proteger a região de Mosul, entre outras, onde os cristãos estão sendo ameaçados de morte. Derrotar os extremistas de Mosul é uma tarefa que ficou nas mãos do exército iraquiano, um grupo despreparado até pouco tempo atrás e que apenas recentemente demonstrou uma evolução de desempenho. No início deste ano, o exército do Iraque descobriu tanques e outros veículos blindados destinados a operações terroristas em Mosul. Os cristãos foram pegos no fogo-cruzado.
“Não apenas eles estão sendo atacados por grupos terroristas, como estão havendo também inúmeras pilhagens em suas comunidades”, afirmou Karadaghi. “Quando o governo iraquiano está procurando por grupos terroristas, eles vêm para essas redondezas. As casas dos cristãos são vasculhadas. E uma vez feita a varredura, os terroristas consideram-nos colaboradores. Então, eles são atacados duas vezes, as vezes no mesmo dia. Não é fácil”.
Ao invés de esperar que as autoridades centrais de Bagdá os proteja, algumas comunidades cristãs estão garantindo sua segurança por conta própria. Relatórios afirmam que os cristãos estão começando a se reunir para formar milícias. Agora, homens armados se posicionam em pontos de checagem ao redor de suas comunidades para controlar a entrada de armas e estrangeiros suspeitos.
Ao mesmo tempo, conforme relatou Karadaghi, as populações cristãs na região Curda estão apelando para o Governo Curdo Regional Autônomo para receberem proteção reforçada. O GCRA respondeu enviando soldados de suas temidas Forças Peshmerga. Os chamados “Combatentes Pesh”, armados com lança-foguetes e fuzis, foram responsáveis por expulsar o exército de Saddam Hussein do norte do Iraque nos anos 80 e 90. Eles seguem patrulhando o norte iraquiano sob os auspícios do GCRA – chegando inclusive a entrar em conflito com o exército iraquiano em cidades que tanto o GCRA quanto o governo iraquiano reivindicam para si.
Em meio aos Combatentes Pesh e às milícias locais, as comunidades cristãs do norte do Iraque nutrem esperanças de que o ano que vem será melhor. Mas o Natal deste ano, eles lamentam, será marcado pela incerteza, pela instabilidade financeira e pelo medo de morte contínuo.
Irã sem Piedade - Dois cristãos iranianos foram acusados de “apostasia” (abandonar a fé islâmica) e muitos outros foram presos enquanto o Parlamento do Irã aprovou uma cláusula que torna obrigatória a pena de morte para sentenciados por esse motivo.
A medida é parte de um novo código penal que foi aprovado, em 9 de Setembro, com facilidade pelo Parlamento, com uma folgada diferença de 196 votos a favor e 7 contra. As comunidades Cristã e Baha’i são as mais afetadas pela determinação.
No entanto, uma fonte confidenciou ao Compass Direct News que, ao discutir o tema da apostasia com alguns parlamentares, eles alegaram não ter conhecimento da questão. A fonte argumentou que o Irã tenta inserir veladamente a cláusula no meio do código penal de 113 páginas.
A legislação iraniana atual considera a apostasia uma ofensa capital, mas a punição é deixada a critério dos juízes.
O Conselho Guardião, o corpo político mais forte no Irã, deve aprovar o código penal antes que ele vigore. Fontes disseram esperar que o conselho, que compreende seis teólogos e seis juízes, o aprove.
Ao longo das ultimas três décadas do regime islâmico iraniano, centenas de cidadãos que abandonaram o Islã e abraçaram o cristianismo foram presos durante semanas e meses, encarcerados em locais desconhecidos e submetidos a torturas mentais e físicas.
A última execução de um convertido ao cristianismo no Irã ocorreu em 1990, muito embora seis outros pastores protestantes tenham sido assassinados desde que o pastor da Assembléia de Deus, Hossein Soodmand, foi executado.
Desta vez, o filho de 35 anos de Soodmand, Ramtin Soodmand, está entre os cinco cristãos presos em três cidades, em Agosto. As autoridades não divulgaram quais são as acusações, mas fontes afirmam que eles podem ser acusados de espionagem para poderes estrangeiros – um delito menos grave do que aquele de apostasia. Similarmente, Hossein Soodmand foi acusado de espionagem para os Estados Unidos.
“Os cristão são vistos como espiões em potencial e aliados a Israel ou aos Estados Unidos”, disse uma fonte que trabalha diretamente com refugiados iranianos, acrescentando que um número pujante de cristãos iranianos por ela aconselhados foram intimidados pela polícia, o que os levou a fugir do país.
Ela também acredita que o rápido crescimento do cristianismo assusta as autoridades do Irã. “Eles encaram isso como algo incontrolável”, afirmou, “então têm medo das igrejas caseiras”.
Outro especialista sobre o Irã afirmou que os cristãos fora do país são parcialmente responsáveis pelas perseguições. Quando eles alegam existir centenas de igrejas caseiras pelo Irã afora, as autoridades sentem-se ameaçadas.
“A polícia é obrigada a reprimir as atividades cristãs tão logo elas começam a ficar muito visíveis”, afirmou um cristão iraniano.
Uma fonte cristã disse que a pressão internacional é crucial caso a apostasia se torne crime capital. Ele lembrou como, em 2005, o convertido ao cristianismo Hamid Pourmand foi absolvido da acusação de apostasia em função da pressão internacional.
“Você deve ser uma pessoa importante, porque muitos membros do governo me ligaram, pedindo que eu arquivasse o caso”, o juiz contou a Pourmand, de acordo com relatórios divulgados.
A sincronia entre o debate do código penal e as prisões não é coincidência, afirmou Joseph Grieboski, fundador do Instituto de Religião e Política Pública. Segundo ele, enquanto a comunidade internacional está focada nas atividades nucleares do Irã, o governo iraniano parece provocar o Ocidente através de violações deliberadas dos Direitos Humanos.
“Devido às questões nucleares, questões como essa passam despercebidas, o que significa que o regime pode agir com liberdade para implantar uma legislação como essa com impunidade, pois as questões nucleares eclipsam este assunto”, afirmou Grieboski.
Mas a questão também pode indicar desespero, afirmou. “Devo dizer que o regime do Irã está intensificando duramente o controle sobre os mais diversos aspectos da vida do povo iraniano. E isto, penso eu, é o sinal de que o regime está em declínio”.
Sou muçulmana? - Bahia Nagy El-Sisi foi presa e julgada em Setembro último por afirmar o cristianismo como sua identidade religiosa oficial em sua certidão de casamento. Sua irmã, Shadia, recebeu uma sentença idêntica em 2007 pelo mesmo motivo. Fato ignorado pelas irmãs, sua identidade religiosa havia sido mudada oficialmente há 46 anos atrás devido a uma conversão temporária do pai delas ao Islã.
A conversão do pai, Nagy El-Sisi, ao Islã, em 1962, ocorreu devido a um breve litígio conjugal, para que ele pudesse obter um divórcio e ganhar a custódia das filhas, afirmou o advogado delas. A legislação egípcia é influenciada pela jurisprudência Islâmica (Shari’ah), que atribui automaticamente a custódia das crianças ao pai que pertencer à religião “superior” e decreta que não pode haver “jurisdição de um não-muçulmano sobre um muçulmano”.
Poucos anos após sua conversão, El-Sisi retornou para sua família e para o cristianismo, adquirindo documentos de identidade cristã forjados. (A reversão ao cristianismo por parte de conversos ao Islã é praticamente impossível nas cortes egípcias).
O caso está em tramitação na Suprema Corte Egípcia. Se a identidade cristã de Bahia Nagy El-Sisi permanecer, seu status religioso poderia criar um efeito dominó que faria com que seu marido tivesse de se converter ao Islã ou anular o matrimônio. Seus filhos também seriam registrados como muçulmanos. Ambas as irmãs são casadas com homens cristãos.
“Todos os seus filhos e netos seriam registrados como muçulmanos”, afirmou Ramsés. “A legislação afetaria muitas pessoas”.
Outras fontes ainda acreditam que a sentença de Nagy El-Sisi será demovida, assim como aconteceu com sua irmã, que foi solta da prisão em Janeiro deste ano.
(com matérias da Compass Direct News Service